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Primeiro papa latino-americano, o jesuíta Papa Francisco fez escolhas de estilo, para reforçar conceitos de simplicidade e transformação (Ashwin Vaswani-Unsplash)

“Conheci” três papas. Entre aspas, porque só João Paulo II vi de pertinho. Quando Papa Bento XIV foi escolhido, fui pautada para fazer uma matéria sobre o estilo dele. Dizia-se que o intelectual alemão Joseph Ratzinger gostava de usar sapatos Prada, o que nunca se confirmou e a razão da confusão talvez tenha sido a adoção por ele, depois de virar Papa, dos muleus – sapatos vermelhos, que compunham a vestimenta papal, que simbolizavam o sangue derramado pelos cristãos. Pesquisei na época os trajes todos que faziam parte da indumentária de Vossa Santidade. Pois bem. Veio Papa Francisco e, com ele, essas tradições foram revistas.

Ser o primeiro papa latino-americano, jesuíta e adotar o nome do santo pobre parece não ter sido o suficiente. Trocou carros de luxo por um carro comum e o crucifixo de ouro pelo de aço, o anel de ouro por um de prata, resolver dormir em aposentos mais simples e até suas vestes foram substituídas por peças mais comuns. A quem se perguntar de que isso importa, lembro que moda é linguagem. Suas escolhas dão recados. A quebra de tradição, neste caso, é um deles. O despojamento é outra. Papa Francisco preferia as vestes brancas, trocou os clássicos sapatos vermelhos pelos seus pretos de sempre, e usava o solidéu (chapéu branco básico).

Foi com essa roupa, aliás, que ele protagonizou a cena que mais marcante do seu pontificado, em março de 2020, no auge da pandemia de Covid-19. Em um momento marcado pelas medidas de isolamento social e pelo medo, Francisco rezou pela humanidade sozinho na imensa e vazia Praça de São Pedro. Naquele momento, o papa concedeu a benção de “Urbi et Orbi” (à cidade e ao mundo, na tradução) aos fiéis, que seria como uma “indulgência plenária”, que concede perdão aos pecados. Sem pompa ou ostentação, só circunstância. Francisco lacrou. Entendeu e usou o poder da comunicação como poucos, pediu paz, condenou a guerra e, com a sua agem, nos deixou órfãos do seu amor incondicional e do olhar solidário.