
Enfim cinquentei. Com um pouco de medo, mas com muito gosto!
Não cheguei até aqui de salto alto e cara feita, não. Vim com tênis surrado, olheiras sinceras, alguns tombos e cicatrizes e uma playlist onde Milton Nascimento encontra Criolo pra tomar um café forte e falar da vida.
Sou da geração que viu o videogame nascer, que fazia chamada telefônica com o dedo no disco – e era um inferno ligar pra número com muito nove. Usei máquina de datilografia e fita corretiva. Que precisava rebobinar a fita de músicas favoritas com caneta Bic. E sobrevivi. Com glória e um certo orgulho, porque tudo isso me ensinou a ter paciência. E que tudo tem seu tempo: do ao amor.
Vi o mundo ar da carta perfumada ao print de WhatsApp. Da foto revelada na loja ao nude com filtro. E, apesar do susto das mudanças, aprendi que ou a gente flutua com a maré ou vira aquelas tias tradicionais do “na minha época é que era bom”. Socorro. ei longe e que assim permaneça.
Sou fã da nova safra. Os jovens me ensinam que é possível sim falar de emoção com emojis e reels. Que existe beleza no improviso, criatividade em quinze segundos de vídeo. Que glitter é um estado de espírito e que delineador neon é o novo hype.
Mas não abro mão dos velhos amigos, do carinho da família e nem da musa Rita Lee me dizendo que não tinha medo de nada. De Milton me fazendo chorar com “Paula e Bebeto”. De Ney me lembrando que o corpo pode dançar com liberdade e desejo até o fim dos tempos. De perceber que o rap traz a poesia das ruas, com mensagens afiadas e uma batida que acompanha meu o no asfalto.
Cinquenta não é idade. É conquista. É poder olhar pra trás com ternura e pra frente com tesão. É ter história pra contar, coragem pra mudar e disposição pra recomeçar.
Ainda quero aprender muito, viajar, me redescobrir, escrever meu livro, rir alto no restaurante. Quero abraçar meus filhos como se ainda fossem meus bebês, fazer dancinha ridícula em frente ao espelho e usar lantejoula na segunda-feira – ou em qualquer outro dia da semana. Quero seguir testando receitas, errando senhas, aprendendo com quem tem metade da minha idade e me inspirando em quem tem o dobro.
Porque sou dessa geração rara que foi analógica, virou digital e ainda teve tempo de renascer em HD. Continuo apaixonada pela natureza, pelas plantinhas e plantonas – as “minhas” araucárias – antes mesmo de se falar em sustentabilidade. E, claro, pelos bichos, que fazem parte da “minha galera” desde muito cedo, quando eu tentava salvar as galinhas da minha avó da a.
Cinquentei porque é o que avisa a minha certidão de nascimento. Mas quero continuar com a alma em modo shuffle: livre, colorida e eternamente xóvem.
*Danielle Blaskievicz é jornalista, empresária, adora ouvir uns “causos” e defensora oficial do glitter existencial depois dos 50.