Eles flertam como quem joga Candy Crush: combinam três mensagens iguais, desbloqueiam um nível com um elogio ensaiado, am pra fase do emoji de foguinho e, quando a coisa fica difícil, simplesmente fecham o app. Não dão game over — só deixam o tabuleiro lá, piscando, esperando uma próxima jogada que nunca vem.
As novas gerações estão vivendo o tempo das relações que mal começam e, em dois cliques, já são arquivadas na nuvem — tipo rascunho de e-mail, salvas pra um dia, quem sabe, serem resgatadas. Eu, que observo esses roteiros amorosos com a curiosidade de quem assiste série que não pretende maratonar, sinto-me a tia da balada: aquela que vai, se diverte, mas agradece aos céus por já ter aposentado o salto emocional. Por sorte não estou mais na pista e completamente por fora dos novos protocolos dos relacionamentos modernos.
Sou da turma que ficou antes de namorar, morou junto antes de casar e se aventurou em trocar de cônjuge quando a sintonia, os objetivos ou a agenda já não eram mais compatíveis. Uma ousadia, mas um avanço também.
Hoje, olhando de fora pros novos aventureiros do amor, dá a impressão de se tratar de um verdadeiro campeonato de afetos com prazo de validade mais curto que o dos stories. Ninguém mais termina, só silencia. Ninguém começa, só reage, dá clique, engaja. Ninguém se declara, acha mais fácil compartilhar um meme e esperar que o algoritmo do amor resolva por eles. O romance virou “push notification”: aparece, distrai por cinco segundos e some sem deixar rastro.
A ironia das gerações mais jovens é que já nasceram conectadas, mas vivem se relacionando com sinal fraco. Estão cheias de contatos mantidos em modo avião: sem bloquear, sem responder, sem reagir. Acaba sendo apenas mais uma aba esquecida no navegador. E o que antes era ghosting agora virou orbiting – ou seja, quando alguém some da sua vida real, mas continua te acompanhando virtualmente.
Além de exigir um novo vocabulário, todo americanizado, a nova etiqueta afetiva é não ser claro demais. Interesse explícito virou carência. Vulnerabilidade é cringe.
É a tal modernidade líquida, em que tudo escorre pelos dedos, inclusive o afeto. Relações voláteis, fáceis de descartar, difíceis de aprofundar. Amar, hoje, é como tentar segurar água: exige coragem, presença e um pouco de paciência — tudo que parece fora de moda.
O amor digital virou um jogo de microgestos: uma curtida estratégica, um story assistido de propósito, um “ei, sumida” a cada ciclo lunar. Às vezes tenho dúvidas se o objetivo é construir um vínculo ou só testar o alcance emocional da própria carência.
O amor agora cabe num story de 15 segundos. E o compromisso, se vier, que espere o próximo sinal de Wi-Fi.
Por aqui, sigo preferindo acreditar que os grandes amores não precisam de atualização automática.
Danielle Blaskievicz é jornalista e empresária e tem amizades desde a geração Baby Boomer, X, Y, Z e de todas as outras letrinhas.