Que tal chegar aos 94 anos de idade ainda com energia para caminhar todos os dias por aí e até mesmo subir umas montanhas de vez em quando? Pois é exatamente esse um dos vários feitos do curitibano Henrique Paulo Schmidlin. E em entrevista ao Bem Paraná, ele tratou de revelar o segredo não só para sua longevidade, mas também para sua vitalidade.
“Eu até brinco com isso, me perguntaram recentemente sobre. Eu digo [que o segredo é] ‘trepar sempre, não parar’. Tem que se manter sempre em atividade. Não precisa ser um super atleta. Tem que usar a cabeça e não pode querer ultraar o próprio limite. Mas eu nunca parei. Nem hoje, que já dei minha volta grandona pelo bairro para não perder a forma”, afirma ele.
Para quem não conhece a figura, a resposta pode até parecer um tanto jocosa. Mas Schmidlin, que é mais conhecido por aí como Vitamina (apelido que ganhou ainda na juventude), se refere a trepar em pedras e escalar em rochas. Com 94 anos de idade, ele é montanhista desde criança, sendo o dono de um imenso currículo de primeiras chegadas em montanhas das serras paranaenses e um dos mais completos escaladores do estado. E até hoje permanece na ativa.
“Agora em abril fui pro Rio Grande do Sul, participar de um congresso. E aí eu subi o ponto culminante de lá, o Pico do Pontão [também conhecido como Pico do Monte Negro]. Mas não pense que é grande coisa. É uma subida de 20 minutos, 25. Mas é o ponto culminante, né? E é montanha. Então, isso é só pra dizer que continuo em atividade”, ressalta ele, explicando que suas explorações estão agora mais dedicadas ao norte do Paraná.
“Porque tudo aqui é Marumbi, Serra do Mar. Mas e o pessoal do interior? Daí eu fiquei preocupado e comecei a subir [picos e morros] no interior do Paraná. Várias montanhas. São montanhas mais baixas, mas são bonitas, né? E aí já tem clubes de montanhismo no interior: em Foz do Iguaçu, Guarapuava… Está se expandindo”, celebra.
A paixão pelo esporte e a origem do apelido 5t5659
Henrique Paulo Schmidlin tem um nome de origem suíça, herdado da família de seu pai. Sua mãe, no entanto, era uma alemã da Prússia. E ele nasceu em Curitiba, no dia 7 de outubro de 1930, num lugar na época conhecido como Campo do Paraná e hoje chamado de Centro Cívico.
O grande acontecimento de sua infância, provavelmente, foi a descoberta do montanhismo. Algo que aconteceu quando ele tinha apenas sete anos de idade e havia ido para um lugar chamado Pedra Preta (que hoje é Tunas do Paraná), ar as férias escolares com os avós.
“Era uma região ondulada e meu tio um dia me levou numa montanha, que devia ter uns 200 metros. Para mim, que nunca tinha subido uma montanha, era como subir o Everest. Eu fiquei fascinado com aquela paisagem de pássaro, aquelas ondulações, o mato… E me entusiasmei tanto que eu subi todos aqueles morros da região. Então, a minha iniciação foi ali”, relata.
O notório apelido, por outro lado, veio anos depois, quando Schmidlin já iniciava suas aventuras pelo Marumbi, no litoral do estado, e por outras serras paranaenses.
“A gente subia as montanhas e normalmente o pessoal levava sardinha na lata, uma broa e mortadela. E eu levava, por influência da minha mãe, muita verdura, muita fruta. O brasileiro não comia nada disso naqueles tempos, e eu levava nabo branco, cenoura, pimentão, tomate, ovo… Aí quando o pessoal me via, já diziam: ‘vem aí aquele louco com as vitaminas’. E aí ficou o apelido Vitamina”.
Os pioneiros: “Quando eu comecei, era tudo montanha virgem” 6w596
Quando Vitamina iniciou no montanhismo, grande parte das montanhas na Serra do Mar ainda eram “virgens”, ou seja, nunca haviam sido alcançadas por qualquer pessoa. Isso até que no começo dos anos 1940 surgiu um clube chamado Círculo de Marumbinistas de Curitiba (CMC), primeiro clube do país ligado ao montanhismo. E foi esse grupo que começou a desbravar, por exemplo, a Serra do Ibitiraquire, onde ficam montanhas hoje célebres como o Pico Paraná, o Caratuva, o Itapiroca, o Siririca e o Ferraria.
“Fomos autodidatas. A gente tinha uma boa educação esportiva, éramos saudáveis. E aí começamos a criar desafios. Olhava a montanha e já dizia ‘vamos lá. Não tem caminho, vamos lá’. E então nós íamos. E aí começamos a abrir várias, conquistamos muitas montanhas. Muitas, eu até perdi a conta. Começamos a subir tudo o que é montanha”, recorda Vitamina, que mantém até hoje uma série de diários com os relatos de todas as suas aventuras – uma mania germânica, diz ele.
O pico favorito do lendário montanhista 222rc
Mas afinal, qual a montanha favorita do lendário Vitamina: Marumbi, Pico Paraná ou outra opção?
“A minha montanha favorita?! Ah, é o Pico Paraná. Mais do que o Marumbi, viu? Apesar de que o Marumbi é mais famoso, mas hoje a minha favorita é o Pico Paraná. É curioso, eu cansei de subir o Marumbi, mas nunca cheguei lá em cima. Eu escolhia algum lugar e ficava lá o dia inteiro, curtindo a natureza, fazendo meus desenhos e escrevendo. E o Pico Paraná… Bom, é o ponto culminante do estado. E eu conheci o [Reinhard] Maack, que foi quem descobriu o Pico Paraná e disse que aquela que era a maior montanha do estado, e não o Marumbi. A conquista do Pico Paraná foi em 1943 e foi uma batalha muito grande.”