
A cultura do vinil segue ecoando em alto e bom som em Curitiba, com o mercado de discos navegando numa crescente desde a pandemia. Nos últimos meses, por exemplo, novas lojas de ‘bolachões’ foram inauguradas no Centro da cidade, dando mais opções aos amantes da música. Além disso, as assistências técnicas também notam uma boa demanda por serviços, bem como a cidade já conta com dois selos musicais próprios. E para brindar esse bom momento e o “boom” do setor, no próximo final de semana a Capital recebe a Feira Nacional Curitiba Vinil, que é uma das maiores do país e alcança agora sua 27ª edição. 6f5ms
O evento, que acontece no próximo sábado (7 de junho), será realizado na Galeria Green Center, no Centro (entrada pela Rua São Francisco, 232, ou pela Rua 13 de Maio, 439), das 9 às 18 horas. Serão mais de 30 expositores de todo o país participando, com mais de 30 mil discos à disposição dos curitibanos. Além dos LPs, também será possível conferir e adquirir na feira DVDs, K7’s e CDs, além de equipamentos como toca discos, receivers e caixas de som e outros itens ligados à cultura vinílica e musical, como livros e camisetas temáticas.
Novas lojas de ‘bolachões’ no Centro da cidade 3ue5q
Criador da feira, Ronald Gel é também o proprietário da loja da Curitiba Vinil, que foi inaugurada no final de março deste ano e também fica na Galeria Green Center, onde ocorrerá o evento. A inauguração da loja física, inclusive, foi a realização de um sonho para ele. “De 1995 a 1997 trabalhei como vendedor numa loja de discos. E hoje, quase 30 anos depois, abrir a minha própria loja, é muito emocionante”, relata o empresário, que aponta a crescente procura pelos “bolachões” como um dos motivos para o investimento. “O volume de discos [sendo vendidos] aumentou, e aí veio a ideia de abrir um espaço físico para receber os clientes.”
Na mesma toada – e apostando num futuro cada vez mais analógico -, o DJ Paulo Henrique, dono e curador da Vinil Attack – se juntou a outros dois apaixonados por discos e inaugurou recentemente a Discolabels, que também fica no Centro de Curitiba (na galeria do Edifício Santos Andrade). A loja reúne três marcas ou selos: a Agreste Discos, o Moiô Azedo Discos e a própria Vinil Attack, numa junção que traz muitas opções para os apaixonados por rock, forró, rap, hip hop, jazz e world music, sempre com muita música brasileira no meio disso tudo.
“Eu até falo que escutar vinil é como se fosse um abraço, não uma mensagem de WhatsApp, saca? As duas têm a mesma mensagem, mas o vinil é o abraço quentinho”, diz Paulinho. Ele também sonha em criar um selo próprio de discos, para gravar artistas locais (músicos e poetas). “O intuito é criar um espaço para a cena local, lançando discos de poetas independentes, de rappers… Tem muita coisa acontecendo no underground curitibano e queremos deixar isso marcado em vinil”, ressalta o DJ.
“O vinil é uma moda que voltou para ficar” 2w552m
Não é só de feiras e venda de discos, no entanto, que o mercado vinílico se mantém. E a Paraíso Sonoro, que fica na Rua Alfredo Bufren (nº 51, Sala 13), é um exemplo disso. Fundada em 2016, o estabelecimento trabalha com assistência técnica, restauro e também a venda de equipamentos como caixas de som, toca discos e receivers.
Na pandemia, conta Almir Mesadri, de 66 anos e dono da Paraíso, a demanda foi enorme. “Trabalhei muito. As pessoas não viajavam mais, não iam para bares, aí ficavam em casa, iam pro porão ou pro sótão fazer uma limpeza e aí achavam as raridades. E aí vinha a pergunta: ‘opa, quem pode arrumar [meu toca discos]? O Almir!’ Ah, eu trabalhei muito na pandemia”, relata o empresário.
Ele, inclusive, trabalha desde os 14 anos de idade com eletrônicos, tendo os aparelhos de som como sua grande paixão. “Teve umas épocas em que cheguei a sair da área, mas sempre acabei voltando. É a minha paixão. E em 2016 estava trabalhando em outra área, mas resolvi voltar. Cheirei o mercado novamente, vi que estava bom e resolvi voltar a trabalhar na área que eu sempre gostei”, diz ainda Almir, que aposta que os discos de vinil agora voltaram para ficar.
“As pessoas enjoaram da mídia digital, dessa coisa não palpável. Para você ter ideia, eu peguei primeiro o retorno do vinil. Daí na sequência teve o retorno das fitas K7, de áudio, então restaurei muito tape deck. E agora está retornando o CD, que todo mundo tinha largado, e tem muita gente procurando vídeo-cassete. Mas o vinil, pela quantidade de discos que estão sendo prensados pelo mundo, ainda vai longe, vai durar bastante tempo.”

Os selos musicais curitibanos vt2o
Além da feira, das vendas de discos e do mercado de assistência técnica, Curitiba também tem visto surgir mais selos musicais para chamar de “seu”. Um deles é a Zoom Discos, que em 2025 celebra 11 anos de história e de luta, registrando e divulgando o trabalho de bandas independentes da cidade, principalmente da cena do punk rock e suas vertentes. A cada ano, são lançados de três a quatro discos, e o selo está aberto a novos grupos que querem lançar os seus trabalhos.
“O selo é uma coisa que a gente faz por amor. Porque a gente gosta muito não só do mercado do vinil, mas também do mercado de banda independente. A gente participa e pra gente é uma coisa de devolver, sabe? A gente sempre viveu nesse cenário aí e a gente acha que o selo é uma oportunidade de deixar uma marca, de deixar um registro. E eu acho que o disco de vinil das bandas é uma coisa que fica pra posteridade. Esperamos que daqui 20, 30 anos, alguém vá numa feira de vinil do futuro, pegue o nosso disquinho e fale assim: ‘nossa, olha esse disco da Zoom que foi lançado em 2020, em 2015, e agora tá registrado aqui, tá marcado’”, diz Leonardo Cavalli, um dos sócios e criadores do selo.
Além da Zoom, Curitiba também conta com a Renaissance Vinil. Trata-se de uma loja de discos que também oferece órios para DJs, tendo inclusive lançado recentemente um case de agulhas e adaptadores feitos artesanalmente para toca discos utilizados por DJs. E além desse comércio, a Renaissance é também um selo de rap que lança discos de vinil de rap underground nacional.