A expectativa de vida dos paranaenses está crescendo. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2025 o Paraná alcançou a marca de 79,43 anos de expectativa de vida, uma alta de 3,5% em 10 anos (essa expectativa era de 76,78 anos em 2015). Um cenário que vem se refletindo no empreendedorismo paranaense, com o público sênior (com mais de 60 anos) à frente de 213 mil negócios no estado. Para se ter uma dimensão do que isso representa, desde 2016, quando 195 mil negócios eram comandados por idosos, o número de empreendedores seniores cresceu 9,2% no estado. Além disso, atualmente cerca de 13% de quem empreende no estado tem mais de 60 anos.
Os dados estão presentes em levantamento do Sebrae/PR, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) – Terceiro Trimestre de 2024, do IBGE. Conforme o estudo, 72% dos negócios nas mãos de seniores são liderados por homens e 28%, por mulheres. Entre os principais setores estão o de Serviços (30%), Comércio (24%), Agronegócio (23%), Construção (13%) e Indústria (10%). Ademais, o rendimento médio mensal desses empreendedores é de R$ 4.076. O valor, contudo, chega a R$ 7.655 entre os formalizados, número 71% superior aos R$ 2.246 percebidos pelos informais. No entanto, apenas 33,8% dos empreendedores seniores estão formalizados e outros 66,2% estão na informalidade.
“No Paraná, 28,9% dos empreendedores seniores iniciam negócios ao identificar oportunidades de mercado. Além disso, 27,6% são impulsionados pela necessidade de complementar rendimentos insuficientes, como aposentadorias, enquanto 25,1% buscam independência financeira e 24,4% desejam realizar sonhos pessoais. Esses números refletem como o empreendedorismo nessa faixa etária está alinhado aos princípios do envelhecimento ativo, promovendo autonomia e produtividade”, aponta ainda o Sebrae/PR.
Envelhecimento da população não representa inatividade 3st5s
De acordo com Letícia Monteiro Pimentel, coordenadora de Relacionamento com Clientes do Sebrae/PR, o levantamento aponta que o envelhecimento da população não representa inatividade. “Essa é, sim, uma fase produtiva e inovadora, quando o trabalho e o propósito caminham juntos, com experiência, resiliência e uma gestão estruturada. Temos o compromisso de fortalecer esse ecossistema por meio de capacitação, atendimento, e e soluções que garantam um ambiente propício para inovar, gerar empregos e impactar positivamente a sociedade”, aponta ela.
Fernanda Robes, que é consultora do Sebrae/PR, destaca que 91,5% dos 213 mil negócios nas mãos de seniores estão ativos há mais de dois anos. “[Isso mostra que] O empreendedorismo sênior é uma realidade consolidada no Paraná, mas a informalidade segue em alta, com 66%. Isso traz dificuldades na busca pelo crédito, em o a novos mercados e a falta de benefícios, como o de auxílio-doença. Com uma conscientização, esse público pode fortalecer ainda mais a economia paranaense”, conclui ela.
“Para nós é uma oportunidade de trabalho” 544hj
Em Curitiba, a artesã Claudia Regina Leite de Oliveira, de 62 anos, é um exemplo de empreendedora sênior. Ela trabalha há cinco anos com artesanato, tendo iniciado sua trajetória no crochê, com a venda de itens pela internet. A criação do negócio foi uma forma de complementar a renda da família. É que seu marido, Valmir de Moraes Leite, de 74 anos, estava aposentado já há algum tempo (ele era funcionário federal) e havia perdido o emprego como porteiro durante a crise sanitária. Depois da pandemia, não conseguiu se recolocar no mercado de trabalho.
Convidada a participar de feiras de bairro na Capital, ela inicialmente tentou seguir com o crochê como negócio. “Quando cheguei com as peças, a pessoa a quem fui indicada procurar olhou bem na minha cara e foi taxativo: ‘isso aí que você faz, o Largo da Ordem está cheio’. Tinha que apresentar algum outro produto, e voltei na semana seguinte com outra coisa”, diz ela, que aprendeu pela internet a arte do pontilhismo e ou a fazer mandalas. Hoje, atua ocasionalmente na Feira do Largo da Ordem, como visitante. Além disso, todas as sextas (das 13 às 19 horas) está na Feira do Cajuru, enquanto aos sábados (das 7 às 13 horas) marca presença na do eio Público.
“Trabalho mais as peças vazadas, algo mais diferenciado. Também faço um trabalho específico, além do esotérico, com as religiões de matriz africana, com muitos orixás. A procura é muito grande em função disso. 70% da minha demanda é em cima de peças de matriz africana”, diz ela, ressaltando que o empreendedorismo virou uma oportunidade não só para si, mas também para seu companheiro.
“Para nós é uma oportunidade de trabalho. Com minha idade, jamais entraria no mercado de trabalho de novo. E meu marido me ajuda por isso. Ele foi porteiro de prédio, mas na pandemia não teve como se manter e ele saiu. Foi um complemento tanto para mim quanto para ele, para que nenhum dos dois perdesse o juízo. Ficou um trabalho bom, unimos o útil ao agradável. Trabalhamos juntos, temos uma rotina juntos”, destaca a empreendedora.
“Arregaça as mangas e vai”, incentiva empresária de 67 anos q5r2n
Ao longo dos últimos anos vem crescendo, de forma especial, o número de empreendedores com mais de 65 anos de idade. No último trimestre do ano ado, por exemplo, essas pessoas já representavam 7,48% dos donos de negócios no Paraná, segundo maior porcentual para a série histórica iniciada em 2015. Essa proporção só foi mais expressiva no final de 2018, quando chegou a 7,83%.
E em Curitiba, uma dessas empresárias é Lori de Paula, dona da Med Mart Equipamentos Médicos. A empresa, que está em suas mãos desde 2001, recentemente inaugurou uma nova loja na Av. Marechal Floriano Peixoto, com 390m² (antes ficava num espaço de 100m²), e trabalha tanto com assistência técnica como com vendas. Até o negócio começar a dar lucro, no entanto, foram sete anos lutando e persistindo.
“Depois dos 50 anos já é mais difícil arrumar um trabalho, mesmo que tenha uma formação e tudo. Então, o que acontece? A pessoa procura algo que ela saiba fazer e começa a trabalhar com isso, faz desse algo um negócio”, diz a empresária, comentando sobre a crescente de empreendedores seniores no Paraná. Além disso, ela também a uma mensagem aos que estão pensando em empreender.
“O que eu posso dizer para uma pessoa sênior que está querendo abrir um negócio é: se você tem coragem, tem bom ânimo para seguir em frente, arregaça as mangas e vai, porque isso deixa a gente mais revigorado, dá mais ânimo, dá mais vontade de envelhecer, porque você trabalhando, não vê o tempo ar. Então você tá trabalhando, você tá produzindo e você tá sendo útil pra alguma coisa. Eu acho isso muito importante.