Marcelinho com as camisas do Athletico Paranaense e do Paraná Clube, em frente à nova Arena da Baixada (Crédito: Robson Mafra)

Ele marcou o último gol da velha Baixada, demolida em 1997. E, em bela cobrança de falta, fez o gol do último título importante do Paraná Clube, em 2006. Esse é Marcelo de Souza Ramos, o Marcelinho, 45 anos, nascido em Jundiaí do Sul (PR) em 1978. 1cf4j

Além dos dois gols históricos, Marcelinho viveu aventuras no futsal, no futebol de campo e na Suburbana de Curitiba. Em entrevista para o Bem Paraná, ele conta como chegou a marcar algo entre 23 e 25 gols de falta, como surgiu nas quadras e campos do Athletico Paranaense, como foi a aventura no México e como “morreu pela primeira vez” quando decidiu se aposentar.

O ex-jogador revela ainda detalhes da sua polêmica saída do Paraná Clube, com um contrato que “sumiu”.

A entrevista foi dividida em três partes. Nessa parte, ele conta sobre o Athletico e as aventuras no Exterior. Nos links abaixo, Marcelinho fala sobre Paraná Clube e outros ‘causos da bola’

Bem Paraná — Como você começou no futebol?
Marcelinho
— Comecei com cinco, seis anos a me interessar por futebol, junto com meu pai, meu maior incentivador. E eu assistia jogos pela TV junto com ele e eu tinha o futebol de rua também. Tinha um campo na frente da minha casa. Comecei a jogar e fui pro futebol de salão do Athletico em 89. Depois, em 92, ei pro campo, com o professor Nilo. Treinava na antiga Baixada e no ginásio antigo da Baixada também. Não foi uma fase muito fácil, porque o Athletico não tinha essas condições que dá hoje.

BP – E você pegou uma era de ouro do futsal de Curitiba…
Marcelinho
– Eu era o único do futsal do Athletico que vingou no campo. E a gente tinha que jogar contra Paraná Clube e AABB, que tinham Alex, Tcheco, Ricardinho, Lipatin, Lúcio Flávio… E depois veio o Castorzinho ainda. Era uma safra boa do futebol de salão ali, todos esses se profissionalizaram no campo.

Time de futsal do Athletico nos anos 90, com Marcelinho agachado à direita (Crédito: Acervo pessoal/Marcelinho)

BP – E quais seus melhores momentos no futebol de campo do Athletico?
Marcelinho
– Um foi em 1996, quando ganhamos uma Taça BH (juniores), em cima do Cruzeiro, no estádio Independência, título que o Athletico nunca tinha conquistado. Nosso professor era o professor Sérgio Moura, um excelente treinador da base que revelou muitos jogadores. No profissional, fui campeão da Copa Paraná em 1998 e do Paranaense em 1998. E eu estava naquele grupo da Seletiva da Libertadores de 99, que ganhamos e fomos pra Libertadores de 2000.

MARCELINHO
Nome
: Marcelo de Souza Ramos
Idade: 45 anos
Naturalidade: Jundiaí do Sul (PR)
Clubes: Athletico, Santo André, América-RN, Vila Nova, Figueirense, Avaí, União São João, Necaxa (México), Olmedo (Equador), Paraná Clube, Bahia e Foz

BP – Como foi o gol histórico pelo Athletico, em 1997?
Marcelinho
– Tive o prazer de fazer o último gol da velha Baixada, contra o Batel de Guarapuava. Foi um cruzamento do Alberto pela direita. Eu estava no segundo pau e consegui fazer meu primeiro gol profissional. E foi o último gol daquela Arena.

BP – E teve um período que o Athletico te emprestou para outros clubes.
Marcelinho
– Rodei por Santo André, Vila Nova, Figueirense, Avaí, União São João, América de Natal. Sucesso bastante foi no Figueirense, que a gente conseguiu ser bicampeão e subiu o time pra primeira divisão. Em 2002, fizemos uma campanha boa no Figueirense. Tivemos oito jogos fora por uma punição por causa do jogo do contra o Caxias, e mesmo assim nós subimos. Nosso treinador era o Muricy Ramalho e o auxiliar era o Dorival Júnior. E, no Vila Nova, de Goiânia, ficamos seis meses sem receber salário e ficamos sem treinar. E mesmo assim, conseguimos ser campeões goianos.

BP – Como foi a saída do Athletico?
O Athletico sempre me emprestava. Até que em 2004 me vendeu lá pro Necaxa, de Águas Calientes, no México.

BP – Como foi a experiência no México, em 2004?
Marcelinho
— No México, foi uma experiência bastante importante, porque um era um futebol diferente, era muito corrido. Lá eles não cadenciam muita bola. Era muita velocidade, gostam de
de sempre estar atacando pelos extremos. E eu fui pra uma posição meio complicada porque eles ficaram de vender um argentino, o Alfredo Moreno, e acabaram não vendendo. Tinha limite de estrangeiros. Jogavam três e podia ficar quatro fora. Então eu jogava uma, ele jogava outra. Foi uma experiência bem gratificante.

BP – E no Olmedo, do Equador, em 2005?
Marcelinho –
No Equador, joguei na altitude (2.750 metros de Riobamba). No começo foi complicado, os primeiros dias, mas depois me adaptei. Jogamos bem o campeonato equatoriano, que parece fácil, mas não é. Tem times bons: Emelec, Barcelona de Guayaquil, LDU, Nacional, todos difíceis. Foi uma experiência boa também. Ficamos em 3º lugar do Equatoriano. LDU foi campeã. Foi uma experiência maravilhosa.

BP – Você viveu alguma situação inusitada no futebol?
Marcelinho
– Eu estava no México e fui liberado para voltar pro Brasil para o Natal. Era dia 24. Meu voo era meia noite. Fui pro aeroporto da Cidade do México, a 400 km de Águas Calientes, onde eu jogava no Necaxa. Fui cedo. Cheguei era 5 da tarde. Despachei a bagagem, cheio de presentes, um monte de coisa. Fui jantar. Encontrei um argentino que estava indo embora também. Aí começamos a tomar um chope, jantar e bater-papo. Deu 10 pra 11 eu fui lá pra embarcar, onde tem o detector de metal. E tinha uma fila gigante. Fiquei desesperado. Todo mundo com medo de perder o voo também, porque era só aquela entrada ali pra ir pra vários vôos. Tinha que ar por ali. Fui lá na frente pra falar com a mulher, depois voltei para aquela fila enorme. De repente, veio um cara do meu lado com uma cadeira de rodas fechada. Era funcionário do aeroporto. Olhou pra mim e falou, em espanhol, baixinho: “Por 200 dólares te coloco lá dentro”. Aceitei e sentei na cadeira. Ele foi ando comigo assim pelas filas. Já era 11 e 48. amos por mais portas e tudo mais. E ainda faltava uns 100 metros. Aí bateu o desespero, eu levantei da cadeira de rodas e saí correndo. Entrei no avião e a mulher fechou a porta logo em seguida. Que sufoco. Depois pensei que, quando eu pulei da cadeira, o pessoal que viu deve ter pensado que era um milagre acontecendo ali.