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Dalton Trevisan, em uma foto antiga: avesso a aparições em público (Divulgação)

Morreu nesta segunda (9), aos 99 anos, em Curitiba, o lendário escritor curitibano Dalton Trevisan. Ele morreu em sua casa. A causa da morte não foi divulgada. Segundo informações do serviço municipal da Prefeitura, não haveria velório e o corpo seria cremado nesta terça (9). Cerca de 10 minutos, no entanto, a publicação foi deletada. Familiares insistiram em negar o falecimento do escritor, A assessoria da Prefeitura de Curitiba se limitou a dizer que cabe somente à família informar sobre a morte do escritor, sem negar ou afirmar o óbito, mas o mistério durou pouco. O carro funerário na frente do prédio onde Trevisan morava revelou a pior parte do mistério: ele realmente morreu. Fontes consultadas pelo Bem Paraná, no entanto, informaram que o “vampiro de Curitiba” deixou uma lista de pedidos a serem cumpridos após a sua morte, ou seja, a lenda vive. Só mais tarde, por volta das 23h40, o perfil oficial de Trevisan, confirmou a partida dele: “Todo vampiro é imortal. Ou, ao menos, seu legado é. Dalton Trevisan faleceu hoje, 09 de dezembro de 2024, aos 99 anos”. 5ov6e

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Carro funerário na frente da casa de Dalton Trevisan (Franklin de Freitas)

Nascido no dia 14 de junho de 1925, em Curitiba, Trevisan ainda vivia na Capital. Só não era quase mais visto em público, tanto que imagens suas eram raras, muito raras – a fama de recluso, inclusive, rende manchetes até mesmo cômicas, como uma de 2012 que diz “Vencedor do Prêmio Camões, Dalton Trevisan mantém tradição e não aparece”.

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E o vampiro de Curitiba também nos surpreendeu no final

Dalton Jérson Trevisan, advogado e escritor curitibano, ficou famoso por seus livros de contos, especialmente “O Vampiro de Curitiba”, o qual lhe rendeu o apelido de “vampiro de Curitiba”, sobretudo por conta da sua personalidade muito reservada. Desde que era aluno de Direito na Universidade Federal do Paraná, na década de 40, o autor divulgava seus contos em folhetos e, em 1945, lançou “Sonata ao luar”, obra que foi posteriormente renegada por ele, assim como “Sete anos de pastor”, de 1948. Logo, o primeiro trabalho devidamente reconhecido por ele foi “Novelas nada exemplares”, de 1959, que rendeu a Dalton o prêmio Jabuti. Outras obras posteriores foram premiadas, tais como “A polaquinha”, “Morte na praça”, “Noites de amor em Granada” e “Cemitério de elefantes”.

Ao longo de 68 anos, o escritor viveu numa casa na esquina das ruas Ubaldino do Amaral e Amintas de Barros, no Alto da Glória. O local chegou a virar uma espécie de ponto turístico não oficial da cidade, com fãs em busca de uma aparição do autor. Mas depois de um assaltante entrar na residência (o suspeito foi preso em flagrante), no final de 2021, ele se mudou para um apartamento na Rua Doutor Muricy, no Centro da cidade.

O círculo de amigos de Trevisan era . Suas aparições, como se sabe, cada vez raras. Mas ele ainda era visto por aí, reza a lenda: no final do ano ado, por exemplo, teria sido flagrado num café que fica na Praça Osório, próximo de seu apartamento. Seu último registro, no entanto, é mais antigo: uma foto tirada em 2007, na Rua XV de Novembro, perto do Teatro da Reitoria. Na imagem, Trevisan é flagrado com sacolas de supermercado.

Atualmente, segundo reportagem da Revista ‘Piauí’, saía pouco de casa e gostava de assistir filmes (no streaming ou na tevê por ). Assim como costumava reler os livros prediletos, também revia várias vezes alguns filmes, na busca por detalhes e curiosidades que haviam ado despercebidas. Prefere os faroestes e os clássicos italianos de Federico Fellini, Ettore Scola e outros, mas recentemente também tomou gosto pelo cinema argentino e pelos filmes dos irmãos Joel e Ethan Coen.

Dalton Trevisan: homenagem em junho 24a4p

A vida e obra do escritor Dalton Trevisan foram homenageadas em junho deste ano na Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (BBM-USP). O evento foi organizado pelos professores Fernando Paixão, do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB-USP), e Hélio de Seixas Guimarães, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH-USP) e vice-diretor da BBM-USP. Os professores são também os organizadores do livro de ensaios Uma literatura nada exemplar (2024), sobre a obra de Trevisan.

Durante o evento, inclusive, Trevisan deixou um recado ao público, que foi lido por uma das participantes dos debates sobre as obras do celebrado escritor curitibano. Entre outras coisas, ele disse o seguinte: “Se eu pudesse, ai de mim, ter escrito continhos melhores. E sinto aos 99 anos, mal vividos e bem sofridos, uma alcachofra de folhas chupadas. (…) Fato é que, bons ou não [meus textos], nunca soube outro ofício. Que mais poderia ter feito? Consertar solas de sapato, segundo o exemplo de Tolstói? Escreva, maldito, escreva: você não serve para mais nada. E lá fui eu, Sinbad dos Sete Mares, upa lalá. Escrevi 700 contos, tantos e tantos livros e cadernos. ‘Escreva primeiro, se arrependa depois’. Você sempre se arrepende. Mas depois de ler esses ensaios e descobrir que tenho tantos tão bons leitores, me arrependo um tantinho menos. Mas ainda me pergunto: ‘Ei, vampiro, qual é a tua?’”

Novas edições das obras do autor chegaram às prateleiras neste ano 4t2e1e

Por conta do aniversário, aconteceram lançamentos em série: novas edições de três de suas obras foram lançadas pela Editora Record, enquanto a editora independente Arte & Letra publiu a caixa “Traçadas Linhas – Dalton e Poty”, que celebra o trabalho do escritor e do artista gráfico Poty Lazarotto, com itens diversos.

Os livros ‘Cemitério de elefantes’ (1964), ‘Contos eróticos’ (1984) e ‘Macho não ganha flor’ (2006) chegaram às prateleiras físicas e digitais com um novo tratamento gráfico e a participação de convidados ilustres. No ano ado, aliás, a Record já havia lançado Antologia pessoal, que traz oitenta contos selecionados e organizados pelo próprio escritor.

Já a caixa Traçadas Linhas traz itens diversos, produzidos por diversos parceiros e montada artesanalmente, com produção e curadoria de Fabiana Faversani e Thiago Tizzot. O evento de lançamento da Arte & Letra, inclusive, deve contar com a participação (não presencial) do escritor.