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Leonardo Cavalli (direita) e seu sócio, Felipe Sad (esquerda): já são 10 anos de Zoom Discos (Foto: Luís Pedruco)

Curitiba possui um selo musical para chamar de seu. Trata-se da Zoom Discos, que em 2025 celebra 11 anos de história e de luta, registrando e divulgando o trabalho de bandas independentes da cidade, principalmente da cena do punk rock e suas vertentes. Um projeto que nasceu quase que de brincadeira, ao longo dos anos foi ganhando força com o ressurgimento do mercado do vinil e hoje já lançou 22 bolachões e compactos, eternizando os registros de 17 bandas, entre elas nomes como Cigarras, Rabo de Galo, Vida Ruim, Colligere e As Más Notícias, entre outros. 21p3b

Tudo teve início, conta Leonardo Lima Cavalli, há mais ou menos 12 anos. Na época ele e seu hoje sócio, Felipe Sad, tocavan juntos numa banda chamada Evil Idols, que estava prestes a acabar. “Um dos caras da banda ia se mudar e a gente sabia que a banda ia terminar. Mas queríamos lançar um material legal, para ser meio que a coroação ali do final da banda. E como já tava acontecendo um pouco do revival do vinil, decidimos fazer esse material em vinil mesmo”, recorda ele.

O lançamento seria feito junto com um selo do Espírito Santo, chamado Läjä Records. Só que como a banda iria bancar uma parte da produção, resolveram inventar um nome e colocar lá um “selo fictício”, criando até mesmo uma logo. Nascia, então, a Zoom Discos, cujo primeiro lançamento foi um compacto duplo dos Evil Idols. Um formato curioso, escolhido porque a banda ainda não tinha um tempo de música suficiente para gravar um LP de 12 polegadas, mas que era muito para um compacto (7″) e no Brasil não se fazia ainda o formato intermediário, de 10 polegadas.

“Mas a gente nem tinha na cabeça que ia ter um selo. A gente só queria lançar nosso próprio disco e ter um material gravado e prensado em vinil. Não tinha um plano de continuar com o selo”, recorda ainda Leonardo. “O nome é meio bobo, mas Zoom Discos é por causa de uma gíria que a gente usava muito. Pra gente, ‘zoom’ era uma coisa legal, era uma coisa massa, do tipo ‘nossa, aquele show foi Zoom!’. Colocamos e ficou”, explica ainda ele.

“O selo é uma coisa que a gente faz por amor, porque a gente gosta muito não só do mercado do vinil, como do mercado de banda independente. A gente participa e pra gente é uma coisa de devolver, sabe? A gente sempre viveu nesse cenário aí e a gente acha que o selo é uma oportunidade que a gente tem de deixar uma marca, de deixar um registro, de devolver. E eu acho que o disco de vinil das bandas é uma coisa que fica pra posteridade. Igual a gente… vai na feira de disco e quer comprar aquele disco da banda que lançou um disco nos anos 70 e ficou pra história e ficou marcado e você quer ter aquele lançamento… A gente espera que daqui 20, 30 anos alguém vá numa feira de vinil do futuro, se é que isso vai existir, não sei como é que vai ser, Mas pega o nosso disquinho e fala assim ‘nossa, olha esse disco aqui das um discos que foi lançado em 2020, em 2015, e agora tá registrado aqui, tá marcado’– Leonardo Cavalli, um dos sócios e criadores do selo Zoom Discos

Agora sim, nasce um selo curitibano! 3p4m4i

O primeiro lançamento da Zoom Discos foi um sucesso. A iniciativa era algo novo na cidade, que ninguém mais estava fazendo na época. Mas os lançamentos de discos pararam por aí e a história da gravadora entrou num hiato que durou cerca de dois anos, até que Leonardo e Sad começaram a tocar juntos numa outra banda, chamada Faca Cega. E quando esse grupo decidiu lançar seu primeiro material, aí veio a ideia de voltar a apostar no vinil.

“Daí a gente fez o primeiro disco do Faca Cega, que é o nosso segundo lançamento, e deu super boa também. E a partir dali a coisa foi começando a pegar corpo e a girar. O Sad toca em mais um monte de banda e a gente lançou uma outra banda dele, que era o Vida Ruim. Aí quando chegou no quarto lançamento, a gente já chamou os amigos. Já não era mais a gente, sabe"> Zoom no Instagram (@zoomdiscos).

As gravações dos materiais a serem lançados, por sua vez, costuma ser feito no estúdio de Felipe Sad, um dos sócios do selo, embora isso não seja uma regra. É que a Zoom tenta levar ao extremo o seu próprio slogan do ‘faça-você-mesmo’, terceirizando apenas a prensagem dos discos (hoje há três fábricas no Brasil, uma em São Paulo e duas no Rio de Janeiro).

“E outra coisa que gostamos de fazer muito nos discos, também não é uma regra, mas é fazer a capinha aqui mesmo, num processo artesanal. Eu brinco um pouco com serigrafia, então as capas são serigrafadas. É mais uma etapa do nosso ‘faça-você-mesmo’, só não conseguimos prensar os discos. Mas quando chegam [os LPs], a gente mesmo faz as capas, uma por uma, numera a capa à mão… E aí o disquinho vira uma coisa colecionável, ganha uma identidade única. E aí é correr atrás de distribuir, que é também uma trabalheira, onde a gente se bate mais e perde mais tempo da vida”, comenta Leonardo. “A gente tem os vinis, mas a gente sempre lança, coloca todos nas plataformas de streaming, todas aí. Então dá pra ouvir tudo online”, ressalta ainda ele.