O filósofo grego Platão, fundador da Academia de Atenas, a primeira instituição de ensino superior da civilização ocidental, trezentos anos antes da Era Comum declarou que “opinião é o contrário de verdade”.

Atualmente, com as honrosas exceções de jornalistas e pensadores notáveis que assinam seus artigos em publicações igualmente sérias, as matérias na maioria dos casos anônimas publicadas em Whatsapp dizem loucuras e mentiras escabrosas e irresponsáveis que desafiam a lógica e a realidade.

Qualquer denúncia publicada sobre algum “homem público” amigo, ainda que instruída por farta e irrespondível documentação, é imediatamente considerada mentirosa, denúncia vazia por motivação política, narrativa de inimigos, o que “no devido tempo” será comprovado de modo cabal; embora essa comprovação raramente seja apresentada. O que se apresenta é mais do mesmo, insistência no suposto direito de portar armas, fazer tocaias, correr com armas nas ruas perseguindo pessoas, colocar bombas em aeroportos, depredar patrimônio público, mandar ass quem se coloca contra empreendimentos em áreas de preservação ambiental, desmatamentos ilegais, construções feitas em áreas invadidas e sem responsabilidade legal – e daí que elas as vezes desabam? são coisas da vida –  e outras dessas atividades perfeitamente compatíveis com nosso sentimento religioso e a favor das famílias. Sim, aquelas constituídas por homem e mulher – principalmente por homens que sejam bem autoritários com suas mulheres, e sem respeito, porque é assim que os homens devem ser desde que o mundo é mundo. Xenófobos, misóginos, homofóbicos.

Mostrar o quão detestáveis são os imigrantes, que roubam empregos dos locais, mulheres que acreditam poder se equiparar aos homens, gays que ousam cruzar as fronteiras estabelecidas pelos bons costumes, pessoas com pele de cor diferente da branca.

No entanto, notícias negativas sobre “inimigos”, mesmo anônimas, apenas fofocas propagadas em redes sociais, são readas interminavelmente, como a mais cristalina verdade, até quando não tem o menor fundamento concreto. Daí saem coisas como decretos que nunca foram promulgados, frases que nunca foram ditas, fatos que nunca existiram, fotomontagens tecnologicamente perfeitas, ados inventados mesmo que baseados em outras circunstâncias, ou atribuição falsa de frases machistas, preconceituosas.

Quem reclama de tudo isso são pessoas muito insatisfeitas, o que é criar uma pequena estorinha, a vida fica mais divertida, qual é o mal afinal em acreditar no que se recebe pela Internet, essa coisa de checar tudo até o Trump está contra, não é necessário, tudo não a de confirmação daquilo que já se queria mesmo crer, são apenas palavras, caluniar aqueles de que não se gosta é da natureza humana, o que é uma invençãozinha que faz os amigos rirem?

E assim vamos destruindo os pilares daquilo que chamamos antes de direitos humanos, transformando o avanço que tantas gerações lutaram para construir em pó.

Vamos regredindo a um estágio infantil, onde existe apenas a vontade do líder, e todos os demais devem se curvar a ela. Jogamos no lixo toda a produção intelectual humana ao longo desses séculos, todo o conhecimento, todos os livros, que não am de um “amontoado de um montão de palavras”, toda espiritualidade sensata, todas as escolas, já que cultuamos apenas a espontaneidade, “a sabedoria das ruas”, a agressividade e o agora.

O estudo de um outro idioma, para melhor entendermos uns aos outros, pode transformar-se em meia dúzia de palavras ditas de um modo macarrônico em uma sequência que só nós entendemos, dado que aprender outras línguas é apenas uma questão de ponto de vista, preciosismo pensar que tem importância a comunicação correta, afinal identidade com o “povão” é que traz votos.

Demonstrações e provas devem ser refutadas com frases feitas, como alegação de ter participado de altas reuniões – sendo altas, no caso, a denominação de encontros realizados com pessoas importantíssimas, tanto que não podem ser citadas, que certificaram e não veracidade. Outra forma, alegar que foram lidos, “em outras fontes”, as quais nunca são esclarecidas, a invencionice de todos os comprovantes.

Portanto, transformando tudo numa guerra de palavras, como se fatos não existissem, nega-se ou afirma-se o desejado, mesmo no contrafluxo do real, sendo o ilusório tratado como sólido.

Assim ilusões não são desfeitas, e pode-se permanecer numa eterna infância, com a crença nos heróis escolhidos para os votos intacta, mesmo que eles sejam profundamente sem educação, agressivos e desbocados.

Difícil mesmo é educar crianças e jovens com estes tipos de valores circulando por aí.

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.